URGENCIAS HIPERTENSIVAS


URGÊNCIAS E EMERGÊNCIAS HIPERTENSIVAS

HYPERTENSIVE URGENCIES AND EMERGENCIES

Rogério Gomes Furtado

1; Eduardo Barbosa Coelho2 & Fernando Nobre

3

 

1

Médico Residente R4. Divisão de Cardiologia. 2.Docente. Disciplina de Nefrologia. 3

Coordenador da Unidade Clínica de Hipertensão

Arterial. Divisão de Cardiologia. Departamento de Clínica Médica. Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto - USP.

 

 

C

ORRESPONDÊNCIA:

Fernando Nobre. Divisãode Cardiologia.Hospital das Clinicas da FMRP/USP. Av. Bandeirante, 3900 - CEP 14048-900

Ribeirão Preto-SP. email: fernando.nobre@vol.com.br

 

FURTADO RG; COELHO EB & NOBRE F. Urgências e emergências hipertensivas.

 

 

Medicina, Ribeirão

Preto, 36

 

 

 

: 338-344, abr./dez. 2003.

 

RESUMO -

 

Introdução - A Urgência e a Emergência Hipertensiva são ocorrências clínicas, que

podem representar mais de 25% dos atendimentos de urgência médica, devendo o médico deve

 

estar apto a diferenciá-las, visto que o prognóstico e o tratamento são distintos. Métodos - Foram

 

pesquisados, no site www.ncbi.nlm.nih.gov/PUBMED os artigos referentes ao termo “Crise Hipertensiva”

 

tendo sido selecionadas dezenove publicações, que foram analisadas nesta revisão.

 

Resultados - A Emergência Hipertensiva resulta de elevação abrupta da pressão arterial,

 

com sintomas que sugerem lesões de órgãos-alvo, necessitando de internação hospitalar,em

 

ambiente de terapia intensiva e tratamento com Nitroprussiato de Sódio e/ou Urapidil. Na Urgência

 

Hipertensiva,ocorre aumento da pressão arterial, sem sinais e sintomas de lesão de órgãosalvo,

 

podendo ser ambulatorial o tratamento, com medicamentos por administração oral. Discussões

 

sobre diagnóstico, fisiopatologia e, sobretudo, tratamento apropriado são apresentados.

 

Conclusões - Urgência Hipertensiva é caracterizada por elevação da pressão sem sintomas e/

 

ou lesões em órgãos-alvo, necessitando de redução da pressão arterial em até 24 h. A Emergência

 

Hipertensiva configura-se como elevação significativa da pressão, com sintomas e risco de

 

vida, necessitando de tratamento e redução imediata da pressão.

 

UNITERMOS -

 

Emergências. Hipertensão. Crise Hipertensiva.

338

1– INTRODUÇÃO

A Urgência e a Emergência Hipertensiva são

ocorrências clínicas, que podem representar mais de

25% dos atendimentos hospitalares de urgência. Estima-

se que 3% de todas as visitas às salas de emergências

 

(

1)

 

 

 

são decorrentes de elevações significativas

da pressão arterial. Usualmente, são situações clínicas

 

que necessitam de redução mais rápida da pressão

 

arterial.

 

 

 

(2)

 

Pela grande freqüência com que os indivíduos

procuram atendimento médico-hospitalar, as Crises

Hipertensivas constituem-se em tema médico de importância.

Esta revisão aborda aspectos de relevância

do assunto.

2– CONCEITOS

A Crise Hipertensiva é, didaticamente, dividida

em Urgência e Emergência Hipertensiva.

 

(3)

 

Na Urgência Hipertensiva, o aumento da pressão

arterial (PA) não representa risco imediato de vida

e nem dano agudo a órgãos-alvo, portanto, nessa situação,

o controle da PA poderá ser feito,reduzindo-se

a PA gradualmente, em 24h.

 

(3)

 

Emergência Hipertensiva é a situação clínica,

caracterizada por PA marcadamente elevada e sinais

de lesões de órgãos-alvo (Encefalopatia, Infarto Agudo

do Miocárdio, Angina Instável, Edema Agudo de

Pulmão, Eclâmpsia, Acidente Vascular Encefálico,

Dissecção de Aorta), requerendo internação hospita-

Medicina, Ribeirão Preto,

 

Simpósio: URGÊNCIAS E EMERGÊNCIAS NEFROLÓGICAS

36:

 

338-344, abr./dez. 2003

Capítulo III

339

Urgências e emergências hipertensivas

lar e imediato uso de drogas anti-hipertensivas parenterais,

visando à redução da PA, em unidade de tratamento

intensivo.

 

(3,4)

 

Pacientes que apresentam PA elevada, porém

assintomáticos ou sem deterioração de órgãos-alvo,

não se caracterizando Urgência ou Emergência Hipertensiva,

devem ser submetidos a tratamento ambulatorial.

(3)

Cherney et al.

(1)

afirmam que o nível absoluto da

pressão arterial, em situação de Emergência Hipertensiva,

 

não é o parâmetro mais importante e, sim, a presença

 

de lesões de órgãos-alvo e a condição clínica.

 

 

3- FISIOPATOLOGIA DA EMERGÊNCIA HIPERTENSIVA

As alterações de pressão detectadas parecem

ter início com o aumento inadequado dos níveis circulatórios

de substâncias vasoconstritoras, como norepinefrina,

angiotensina ou a vasopressina, o que ocasiona

elevação abrupta da resistência vascular sistêmica.

Em conseqüência, forças de cisalhamento desencadeiam

dano endotelial, seguido por deposição de

plaquetas e fibrina. Instalam-se alterações anatômicas,

compatíveis com necrose fibrinóide arteriolar, que determinam

perda da auto-regulação circulatória e isquemia

de órgãos-alvo. Essas modificações morfológicas

e funcionais propiciam novo aumento da liberação

de substâncias vasoativas, vasoconstrição e remodelamento

vascular, secundário a proliferação miointimal,

instalando-se um círculo vicioso.

(5)

(Figura 1).

 

4- DIAGNÓSTICO

O diagnóstico é feito, observando-se aumento

da pressão arterial, associada a sinais ou sintomas de

lesão de órgãos-alvo (Emergência Hipertensiva) e não

associada a quadro clínico agudo, de lesão dos órgãosalvo

(Urgência Hipertensiva).

 

(2)

 

As condições clínicas do paciente precisam ser

prontamente avaliadas, especialmente, os exames neurológicos,

cardiológicos, pulmonares e vasculares.

Devem ser realizados: eletrocardiograma, radiografia

de tórax e fundoscopia, para identificar lesões em órgãos-

alvo. Análises laboratoriais devem incluir: dosagem

de creatinina e eletrólitos, assim com exame de

urina do tipo I.

 

(5)

 

Na Encefalopatia Hipertensiva, ocorre hiperperfusão

do cérebro, quando os limites da autoregulação

são ultrapassados, levando a edema cerebral,

pequenas hemorragias e microinfartos. A Fundoscopia

revela exsudatos, hemorragias e edema de

papila. Clinicamente, pode haver sinais neurológicos

localizados, como: cefaléia, alteração do nível de consciência,

confusão mental ou outras manifestações menos

graves, como tonturas ou perda de concentração.

As hemorragias intracranianas costumam provocar

diferentes alterações neurológicas, tanto pela presença

de sangue no espaço subaracnóide quanto pela formações

de hematomas secundários à ruptura de pequenos

aneurismas ou más-formações vasculares.

 

(5)

 

O Edema Agudo de Pulmão, quando presente

na Emergência Hipertensiva, é secundário à disfunção

ventricular esquerda sistólica

ou diastólica. Muitas vezes,

síndromes coronarianas agudas

participam como Emergência

Hipertensiva, provocando

aumento do trabalho cardíaco

e do consumo de oxigênio pelo

coração, com extensão de áreas

de necrose.

 

(5)

 

Aumento intenso e abrupto

da PA também pode provocar

delaminação da aorta

secundária à onda de dissecção,

produzida por aumento da força

de contração do coração.

 

(5)

 

Algumas condições clínicas

podem mimetizar Crises

Hipertensivas. A seguir, destacamos

alguns delas.

Hipertensão Arterial

Grave

Vasoconstrição

Proliferação

miointimal

Dano endotelial

Deposição plaquetária

e de fibrina

Perda da autoregulação

Necrose fibrinóide

arteriolar

Isquemia de

órgãos-alvo

Liberação de

susbstâncias

vasoativas

Figura 1 - Circulo vicioso, que resume a Fisiopatogenia da Emergência Hipertensiva

 

(5)

 

340

Furtado RG; Coelho EB & Nobre F

Emergência Hipertensiva

• Edema Agudo de Pulmão

• Uremia de qualquer causa

• Hemorragia Cerebral

• Epilepsia

• Algumas colagenoses

• Encefalites

• Ansiedade com hiperventilação

• Ingestão excessiva de drogas

• Dissecção Aguda de Aorta

• Eclâmpsia

• Infarto Agudo do Miocárdio

• Feocromocitoma

• Acidente Vascular Encefálico

Urgência Hipertensiva

• Hipertensão maligna

• Suspensão aguda de tratamento anti-hipertensivo

• Cirurgias: HAS grave no período operatório, pósoperatório

e pós-transplante renal.

5 – TRATAMENTO

Emergência Hipertensiva

Hirschl et al.

(6)

em estudo com pacientes que

se apresentavam com PA Sistólica de 200 mmHg e

 

PA Diastólica

 

 

³

110 mmHg e evidência de lesão dos

órgãos-alvo, mostraram que o Nitroprussiato de Sódio

 

teve uma resposta mais rápida em abaixar a PA Sistólica

 

/ PA Diastólica, em 49% deles, enquanto que, com

 

o uso de Urapidil, apenas 20% apresentaram igual

 

redução. Essa diferença foi observada em 15 min,

 

porém, devido, provavelmente, à baixa meia-vida do

 

Nitroprussiato de Sódio, não foi observada após 4 h.

 

O uso de Nitroprussiato de Sódio exige monitorização

 

contínua da PA, em unidade de tratamento intensivo,

 

pela possível ocorrência de eventos adversos.

 

 

 

(6)

 

Franklin et al.

(7)

, estudaram pacientes com PA

Diastólica

 

 

³

130 mm Hg e retinopatia hipertensiva,

tendo observado que o Nitroprussiato de Sódio reduziu

 

mais lentamente a PA Diastólica, em 15 min, do

 

que Nifedipina 10 mg, administrada por via oral.

 

Em outra observação, de Angeli et al.

 

 

(8)

, com

pacientes que estavam com PAD

 

 

³

140 mm Hg, com

sintomas sugestivos de lesão em órgãos-alvo, demonstrou-

 

se que em sete dos dez pacientes que receberam

 

Captopril, 25 mg, por via sublingual, houve redução da

 

PA Diastólica de 140 mm Hg para 120 mm Hg e desaparecimento

 

de sintomas após 2 h. No grupo que

 

recebeu Nifedipina, apenas cinco de dez apresentaram

 

os mesmos resultados.

 

Há situações especiais, que exigem esquemas

 

terapêuticos peculiares, como pode ser observado no

 

Quadro 2.

 

Em resumo, podemos afirmar que, na Emergência

 

Hipertensiva, há quadro clínico peculiar e a

 

redução da pressão arterial deve ser imediata, em regime

 

de tratamento intensivo.

 

O tratamento da PA, após Acidente Vascular

 

Encefálico Hemorrágico (AVE) ou Isquêmico, é controverso.

 

As recomendações atuais baseiam-se no tipo

 

de AVE (Hemorrágico ou Isquêmico) e se o paciente

 

é candidato à terapêutica fibrinolítica.

 

 

 

(9)

 

A seguir as orientações da

 

American Heart

Association

 

 

 

(AHA) para o tratamento da PA elevada

em AVE Isquêmico Agudo (após realização de Tomografia

 

Computadorizada de Crânio).

 

• Não tratar de rotina PA elevada, em pacientes candidatos

 

à terapêutica fibrinolítica

 

 

 

. (9)

 

Quadro 1 - Drogas para uso parenteral, por ordemde rapidez de ação, no tratamento da Emergência Hipertensiva

Drogas Dosagens Ação Efeitos adversos

NITROPRUSSIATO

DE SÓDIO

0,25-10

m

g/kg/min

(EV)

 

Instantânea Náuseas, Vômitos, Contrações Musculares, Intoxicações

 

NITROGLICERINA 5-100

 

 

m

g/min (EV) 2-5 min Cefaléia, Vômitos, Tolerância

DIAZÓXIDO 50-100 mg/bolus (EV)

 

15-30 mg/min (EV)

 

Infusão

 

2-4 min Nauseas, Hipotensão, Taquicardia, Precordialgia

 

HIDRALAZINA 10-20 mg (EV)

 

10-50 mg (IM)

 

10-20 min

 

20-30 min

 

Taquicardia, Cefaléia, Vômitos, Angina

 

ENALAPRILATO 1,25-5 mg 6/6 hs (EV) 15 min

 

 

¯

Acentuada de PA

(

 

 

­

Renina)

 

341

Urgências e emergências hipertensivas

• Tratar PA elevada, em pacientes candidatos á terapêutica

fibrinolítica, quando:

- PA Sistólica > 220 mm de Hg;

- PA Diastólica > 120 mm de Hg;

- PA Média > 130 mm de Hg;

- se o Nitroprussiato de Sódio e o Labetalol(10 a

20mg por via endovenosa) não reduzirem a PA

para níveis abaixo de 185/110 mm de Hg, dentro

da janela de 3 h, não administrar tPA (Ativador

Tissular de Plasminogênio);

- se Nitrolicerina e Labetalol reduzirem a PA para

menor que 185/110 mm de Hg, dentro da janela

de 3 h, iniciar tPA (0.9mg.Kg/dose, com máximo

de 90mg,com 10% fornecida em bolo e o restante

administrado em 60 min)

(9)

;

- após fibrinolítico, não oferecer aspirina, heparina,

 

warfarina, ticlopidina ou outro antitrombótico, durante

 

as primeiras 24h do tratamento do AVE.

 

 

 

(9)

 

Todos os pacientes, nos quais há forte indício

de Dissecção Aórtica, deveriam ser admitidos em unidade

de terapia intensiva, com objetivos iniciais de

monitorização de PA e FC, devendo-se eliminar a dor

com análgésicos opiódes e redução de PA Sistólica

para 100 a 120 mm Hg e PA média de 60 a 75 mm Hg

com Nitroprussiato de Sódio 0.25mcg.Kg.min e,

simultâneamente, usar drogas que diminuam a velocidade/

ejeção do Ventrículo Esquerdo (dP/dT), como o

Propranolol iv, na dose de 1 mg a cada 5 min, até que

haja evidências de bloqueio betaadrenérgico (Freqüência

Cardíaca de 60 a 80 batimentos por minuto), salvo

suas contra-indicações aos beta- bloqueadores, como

Bradicardia e Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica.

 

(10)

 

Urgência Hipertensiva

Pascale et al.

(11)

, avaliando 120 pacientes com

PA Diastólica

 

 

³

120 mm Hg, randomizaram para 4

grupos de tratamento: 10 mg de Nifedipina sublingual

 

(SL); 50mg de Captopril (SL); 0,15 mg Clonidina

 

intramuscular (IM) ou 10mg de Nifedipina (SL) e 40mg

 

Furosemida intravenosa (IV). Não foram observadas

 

diferenças estatísticas significantes, entre os quatro

 

grupos, em reduzir a pressão arterial.

 

Em outro estudo, Habib et al.

 

 

(12)

, avaliaram pacientes

com PA Diastólica

 

 

³

120 mm Hg, tratados

com Nicardipina por via oral (VO) ou Placebo. Houve

 

redução de PA em 65% dos pacientes tratados com

 

Nicardipina e em 22% do grupo Placebo.

 

Sanches et al.

 

 

(13)

, comparando o uso de Bloqueadores

de Canais de Cálcio de ação longa (Lacidipina)

 

com outros de rápida ação (Nifedipina), obser-

 

 

Quadro 2 - Drogas preferenciais, que deverão ser empregadas em situações específicas para o tratamento da

Crise Hipertensiva

Situação Preferência Evitar (razão)

ENCEFALOPATIA

NITROPRUSSIATO DE SÓDIO,

TRIMETAFAN

a

 

METILDOPA (SEDAÇÃO)

TRIMETAFAN DIAZÓXIDO (DIMINUI O FLUXO

 

CEREBRAL)

 

HIPERTENSÃO ACELERADA

 

MALIGNA, ACIDENTE

 

VASCULAR ENCEFÁLICO

 

ENALAPRIL,

 

NITROPRUSSIATO DE SÓDIO,

 

TRIMETAFAN LABETALOL

 

 

a

 

METILDOPA (SEDAÇÃO),

HIDRALAZINA (

 

 

­

FLUXO

CEREBRAL),

 

DIAZÓXIDO (

 

 

¯

FLUXO CEREBRAL)

EDEMA AGUDO DE PULMÃO ENALAPRILATO,

 

NITROGLICERINA,

 

NITROPRUSSIATO DE SÓDIO

 

BETABLOQUEADORES

 

(

 

 

¯

DÉBITO CARDÍACO)

INSUFICIÊNCIA CORONARIANA NITROPRUSSIATO DE SÓDIO HIDRALAZINA (CONSUMO DE

 

OXIGÊNIO)

 

DISSECÇÃO DE AORTA NITROPRUSSIATO DE SÓDIO,

 

TRIMETAFAN PROPRANOLOL

 

HIDRALAZINA (

 

 

­

CONSUMO DE

OXIGÊNIO, TAQUICARDIA)

 

 

342

Furtado RG; Coelho EB & Nobre F

varam que a Lacidipina foi mais eficiente em reduzir

PA em 24 h, quando comparada com Nifedipina (VO).

Com o uso de Nifedipina (VO), foi observado um caso

de Acidente Vascular Encefálico Isquêmico, 30 min

após a administração.

De outro modo, Komsuoglu et al.

(14)

, em pacientes

com PA Diastólica

 

 

³

120 mm Hg, utilizaram

Nifedipina 20mg (VO), mostrando ser essa mais efetiva

 

em reduzir a PA Sistólica em 30 min, quando comparada

 

com Captopril 25 mg (VO); Clonidina 0,150mg

 

(VO) e Furosemida de 40mg (VO), mas tal diferença

 

não foi vista após 30 min.

 

Rutledge et al.

 

 

(15)

, demonstraram que o Enalapril

foi mais eficaz em reduzir a PA do que o placebo, em

 

pacientes com Hipertensão Arterial Sistêmica, cuja PA

 

diastólica encontrava-se

 

 

³ 100mm Hg e £

114mm Hg.

No estudo de Hirschl et al.

 

 

(16)

, Urapidil reduziu,

uniformimente, a PA, quando houve comparação com

 

Nifedipina e Enalapril. Um paciente que recebeu Nifedipina

 

(VO) teve Acidente Vascular Encefálico

 

Isquêmico.

 

As observações de vários estudos, apontam

 

para a possível utilização de vários esquemas terapêuticos,

 

por via oral, no tratamento da Urgência Hipertensiva.

 

O Quadro 3 aponta as condutas mais comumente

 

empregadas nesse contexto.

 

 

6- DISCUSSÃO

O agente ideal para o tratamento da Urgência e

Emergência Hipertensiva continua indefinido

(1)

. Em

Emergência Hipertensiva, o Nitroprussiato (0,5

 

mcg.Kg.min) parece ser uma boa opção para o tratamento.

 

É difícil estabelecer qual o melhor agente para

 

o tratamento da Emergência Hipertensiva, já que faltam

 

dados de estudos, bem delineados e conduzidos,

 

comparando as possíveis intervenções.

 

O JNC VII

 

 

(4)

sugere que a pressão arterial seja

reduzida em torno de 25%, em 2 h, e para não menos

 

que 160/100 mm Hg, em 6 h. Na Urgência Hipertensiva,

 

a redução da pressão arterial deve ser feita em horas ou

 

mesmo em dias. A redução abrupta e intensa da PA

 

pode precipitar isquemia renal, cerebral e coronariana,

 

já que a pressão de perfusão cerebral do hipertenso

 

é, em geral, maior que a do normotenso (Figura 2)

 

 

 

.

 

É recomendada a Monitorização da Pressão

arterial em resposta ao tratamento, nos primeiros 30

min, e a velocidade de redução da PA deve ser considerada

de acordo com as condições clínicas de cada paciente.

Pacientes com Dissecção de Aorta, por exemplo,

requerem uma redução mais rápida da pressão

arterial

(17,18,19)

quando comparados a pacientes com

sintomas de danos cerebrovasculares, já que a redução

 

súbita da PA pode trazer conseqüências graves,

 

como isquemia cerebral

 

 

(1)

.

Urgência Hipertensiva pode ser tratada com

 

uma variedade de agentes, incluindo Nicardipina

 

 

(12)

,

Lacidipina

 

 

(13), Urapidil (16)

, Nitroprussiato e Fenoldopam

 

(20)

 

. A Nifedipina pode ser usada, mas pode reduzir

rapidamente a pressão arterial, fato não necessário,

 

ou até mesmo deletério

 

 

(1)

. Em adição, a Nifedipina,

está associada com maior número de eventos de Acidentes

 

Isquêmicos Cerebrais.

 

 

 

(13,16)

 

A Nifedipina é um medicamento contra-indicado

na Emergência Hipertensiva, porque pode reduzir

rapidamente a PA, com, eventualmente, sérias repercussões

tanto no cérebro, desencadeando Acidentes

Vasculares Encefálicos, quanto no coração, provocando

Isquemia Miocárdica. Seu uso, por via sublingual é

inapropriado, uma vez que é a Nifedipina é absorvida

somente ao chegar ao estômago.

 

(5)

 

Estudos futuros são necessários para melhor

definição de Urgência e Emergência Hipertensiva,

contribuindo-se no melhor guia para o diagnóstico e

tratamento clínico de tais condições.

O tratamento dos pacientes com PA elevada,

sintomáticos ou não, ficou na dependência do local

de atendimento, em estudo de Nobre et al.

(21)

. Nesse

estudo, foi demonstrado que a conduta, na Sala de

 

Urgência, foi, na maioria das vezes, redução imediata

 

 

Quadro 3 - Drogas para tratamento, por via oral, da Urgência Hipertensiva

Drogas Classe Dose Ação Duração

NIFEDIPINA ANTAGONISTAS DO CÁLCIO 5-10mg VO 5-15 min 3-5 h

CAPTOPRIL IECA 12,5-50 mg VO 15 min 4-6 h

CLONIDINA SIMPATICOLÍTICO DE AÇÃO CENTRAL 0,2 mg + 0,1/hora

até 0,8 mg (total) VO

½-2 h 6-8 h

343

Urgências e emergências hipertensivas

da PA elevada, é um bom exemplo. Para que uma

medicação seja utilizada por via sublingual, ela, obrigatoriamente,

deve ter: caráter iônico, alta lipossolubilidade,

importante mecanismo de primeira passagem

(metabolismo hepático). Um bom exemplo desse tipo

de medicamento são os nitratos. Por outro lado, não

são essas as características de: Nifedipina, Clonidina,

Atenolol, Captopril e outros freqüentemente usados por

essa via de administração, na Crise Hipertensiva.

FURTADO RG; COELHO EB & NOBRE F. Hypertensive urgencies and emergencies.

 

Medicina, Ribeirão

Preto, 36:

 

 

 

338-344, apr./dec. 2003.

 

ABSTRACT -

 

Introduction - The Urgency and Hypertensive Emergency are clinical occurrences

that may represent more than 25% of the medical urgency treatments, due to the fact that the

 

doctor must be able to tell them apart, once that prognosis and treatment are distinct. Methods -

 

The articles referring to the term “Hypertensive crisis” were researched at the www.ncbi.nlm.nih.gov/

 

PUBMED Website, where 19 publications have been closen and will thus be analysed in this

 

review. Results - The Hypertensive Emergency results in the sudden elevation of the arterial

 

pressure with symptoms that suggest target-organ lesions,making hospital commitment

 

necessary, in an intensive theraphy facility and Sodium Nitroprussiatum treatment and /or Urapidil.

 

In the hypertensive urgency, the arterial pressure elevation occurs, with no signals and targetorgan

 

damage symptoms, thus being possible of ambulatorial treatment with oral medication.

 

Discussions on diagnosis, physiopathology and, above all, appropriate treatment are presented.

 

Conclusions - Hypertensive Urgency is characterized by the pressure elevation without

 

symptoms and/or target-organ damage, making necessary the arterial pressure reduction up to

 

24 hours. The Hypertensive Emergency means a significant pressure elevation with symptoms

 

and risk of dead, what brings the need of treatment and immediate pressure reduction.

 

UNITERMS -

 

Emergencies. Hypertension. Hypertensive Crisis.

0 50 100 150 200 250

NORMOTENSOS HIPERTENSOS

150

100

0

50

Figura 2 - Fluxo cerebral de acordo com níveis de pressão em normotensos e hipertensos

 

(3)

 

da PA, enquanto que, no ambulatório, para os mesmos

níveis de PA, foram tomadas outras condutas.

Tais fatos levam-nos a crer que significativa parte

da comunidade médica desconhece o conceito de

Crise Hipertensiva e de suas implicações terapêuticas.

Igualmente, precisam ser desmistificados condutas

freqüentemente empregadas, que não condizem

com conceitos e conhecimentos da farmacologia clínica.

O uso de drogas por viasublingual, para a redução

344

Furtado RG; Coelho EB & Nobre F

REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS

1 - CHERNEY A & STRAUSS S. Management of patients with

Hypertensive Urgencies and Emergencies. A Systematic

Review of the Literature.

J Gen Intern Med 17

: 937-945,

2002.

 

2- IV BRAZILIAN GUIDELINES ON HYPERTENSION.

 

 

 

Arq Bras

Cardiol 82:

 

 

 

16-19, 2004. Supl.4

3 - KAPLAN NM.

 

 

Clinical hipertension, 7th

ed, Willians and

Wilkis, Baltimore, p. 265-280, 1998

 

4 - CHOBANIAN AR; BAKRIS GL; BLACK HR; CUSHMAN WC;

 

GREEN LA; IZZO JL; JONES DW; MATERSON BJ; OPARIL S;

 

WRIGHT JT & ROCELLA EJ. The Seventh Report of the Joint

 

National Committee on Prevention. Detection, evaluation and

 

treatment of high blood pressure.

 

 

JAMA 289

: 2560-2572,

2003.

 

5 - VARON J & MARIK PE. The diagnosis and management of

 

hypertensive crisis.

 

 

Chest 118

:14-27, 2000.

6 - HIRSCHL MM; BINDER M; BUR A; HERKNER H; MULLNER M;

 

WOISETSCHAGER C & LAGGNER NA. Safety and efficacy

 

of urapidil and sodium nitroprusside in the treatment of hypertensive

 

emergencies.

 

 

Intensive Care Med 23

: 885-

888, 1997.

 

7 - FRANKLIN C; NIGHTENGALE S & MAMBANI B. A randomized

 

comparison of nifedipine and sodium nitroprusside in severe

 

in severe hypertension.

 

 

Chest 90

: 500-503, 1993.

8 - ANGELI P; CHIESA M; CAREGARO L; MERKEL C; SACERDOTI

 

D; RONDANA M & GATTA A. Comparison of sublingual

 

captopril and nifedipine in immediate treatment of hypertensive

 

emergencies. A randomized, single-blind clinical trial.

 

 

Arch Intern Med 151

 

: 678-682, 1991.

9 - AMERICAN HEART ASSOCIATION.

 

 

SAVC: Manual para

provedores

 

 

 

. Trad. de Edison Paiva. Fundação Inter Americano

do Coração, Rio de Janeiro, p. 201-202, 2002: Tratamento

 

da PA elevada.

 

10 - ISSELBALCHER EM; EAGLE KA & DESANCTIS RW. Doença

 

da aorta. In: BRAUWALD E.

 

 

Tratado de medicina cardiovascular

.

Editora Roca, São Paulo, p. 1646-1647, 1996.

 

11 - PASCALE C; ZAMPAGLIONE B & MARCHISIO M. Management

 

of hypertensive crisis: nifedipine in comparison with

 

captopril, clonidine and furosemide.

 

 

Curr Ther Res 5

1: 9-

18, 1992.

 

12 - HABIB GB; DUMBAR LM; RODRIGUES R; NEALE AC & FRIDAY

 

KJ. Evaluation of the efficacy and safety of oral

 

nicardipine in the treatment of urgent hypertension: a

 

multicenter, randomized, double-blind, parallel, placebo-controlled

 

trial.

 

 

Am Heart J 129

: 917-923, 1995.

13 - SANCHEZ M; SOBRINO J; RIBERA L; ADRIAN AJ; TORRES M

 

& COCA A. Long-acting lacidipine versus short-acting

 

nifedipine in treatment of acute asymptomatic acute blood

 

pressure increase.

 

 

J Cardiovasc Pharmacol 33

: 479-484,

1999.

 

14 - KOMSUOGLU B; SENGUN B; BAYRAM A & KOMSUOGLU

 

SS. Treatment of hypertensive urgencies with oral

 

nifedipine, nicardipine, and captopril.

 

 

Angiology 42

: 447-

454, 1991.

 

15 - RUTLEDGE J; AYERS C; DAVIDSON R; Di PETTE D; GUTHRIE

 

G; FISHER M; SCHWARTZ S & RUCINSKA E. Effect of intravenous

 

enalaprilat in moderate and severe hypertension.

 

 

Am J Cardiol 62

 

: 1062-1067, 1988.

16 - HIRSCHL MM; SEIDLER D; ZEINER A; WAGNER A; HEINZ G;

 

STERZ F & LAGGNER NA. Intravnous urapidil versus sublingual

 

nifedipine in the treatment of hypertensive urgencies.

 

Am J Emerg Med 11

 

: 653-656, 1993

17 - DESANCTIS RW; DOROGHAZI RM & AUSTEN WG. Aortic

 

dissection.

 

N Engl J Med 317

:1060-1067, 1987.

18 - CRAWFORD ES. The diagnosis and management of aortic

 

dissection.

 

 

JAMA 264

: 2537-2541, 1990.

19 - ERBEL R; ALFONSO F; BOILEAU C, DIRSCH O; EBER B;

 

HAVERICH H; RAKOWSKI H; STRUYVEN J; RADEGRAN K &

 

SECHTERN U. Diagnosis and management of aortic dissection.

 

 

Eur Heart J 22

 

: 1642-1681, 2001.

20 - PILMER BL; GREEN JÁ & PANACEK EA. Fenoldopam mesylate

 

versus sodium nitroprusside in the acute management of

 

severe systemic hypertension.

 

Hipertension 15:

159-162,

1990. Suppl. I

 

21 - NOBRE F; CHAUCHAR F; VIANA JM, PEREIRA GJV & LIMA

 

NKC. Avaliação do atendimento do hipertenso em serviço

 

de urgência e em ambulatório de hipertensão.

 

 

 

Arq Bras

Cardiol 78

 

 

 

:156-158, 2002.